quarta-feira, 16 de junho de 2010

Higienização Social: da Africa do Sul ao Centro de São Paulo

Na última terça feira (08/06/2010) o jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria no caderno de esportes sobre o processo de construção dos estádios de futebol que receberiam jogos da copa do mundo de 2010. A abordagem em torno do assunto foi realizada através de um levantamento sobre moradores que tiveram suas residências desapropriadas para que os palcos futebolísticos pudessem ser construídos.

Esses mesmos munícipes foram alocados em lugares muito distantes dos grandes centros em condições de moradia muito inferiores. Herdeiros do antigo sistema que discriminava e restringia o acesso aos serviços e benefícios oferecidos aos negros em relação aos brancos, nos demonstra que esse método de discriminação na teoria teve fim, mais na prática veremos que persiste até hoje, não somente na África do Sul mais em outras regiões, de forma disfarçada.

Durante a visita do Papa Bento XVI no Brasil no ano de 2007, a região destacada para receber Vossa Santidade foi o Centro de São Paulo. Área de grande movimentação e comércio popular que tem no seu contexto diário um grande contingente de vendedores ambulantes, flanelinhas, moradores de rua e menores abandonados.

Eis que, para a surpresa daqueles que circularam pelo Centro de São Paulo, no mês de junho de 2007, praticamente nenhumas das figuras que se tornaram comum na região seria facilmente encontrada. A sensação era de que em um simples passe de mágica nenhuma criança fosse vista inalando cola, moradores de rua encontraram um lar, vendedores ambulantes com emprego e carteira assinada e flanelinhas exercendo outra atividade.

O mesmo processo ocorrido na África do Sul se passou em São Paulo, a diferença é que no país sede da copa do mundo, essa "higienização social" se deu de uma forma declarada e com a autorização da entidade organizadora do mundial.

Em São Paulo a "limpeza" foi feita nos dias que antecederam a visita do Papa, crianças abandonadas foram recolhidas na fundação casa, vendedores ambulantes extremamente proibidos de trabalhar, e finalmente os moradores de rua alguns nos albergues e os demais em outro tipo de abrigo, um prédio com direito a grades, policiais armados e carcereiros, a cadeia.

Alexandre Souza, jornalista e escritor

Um comentário:

  1. Se aconteceu com a visita do Papa que durou um pequeno período, imagine quando chegar 2014.

    Paraisópolis seria banida caso o Morumbi recebesse algum jogo, mas agora o seu futuro permenece incerto... como sempre...

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